Assim canta Dorival
A noite quando é de lua
Dorival canta, levanta os braços do violão e sai pela rua
Mal avista as pedras, lá no alto a lua
Senta na praia e canta...
E quando ele canta, se põe no horizonte: a Bahia
Em procissão as águas são só cantoria
E um Dorival indio
Dorival menino
Dorival baiano
Dorival criança
Dorival mestiço...
Escrevi este texto, que depois virou canção para Dorival Caymmi, por quem, nutro tanta admiração . Escrevi em 1996 no Espaço Cultural Free Music, em Londrina, PR, meses depois de uma longa estada em São Paulo.
Que se descubro
Não me canso
Se me encubro
Vou de remanso
Como encurto
Temo o tranço
Por ir muito
Nem me danço.
Quinto mundo
Acabo santo.
Aldo Moraes
“OBJETO”
Porcelana vã
Sumária estátua
Utensílio inconstante
Se é pelo chá,por que não os bules de alumínio?
Com seus brilhos.
Indefesa prontidão
Indefesa e sem álibi
Com o acréscimo do crime não cometido.
A não ser as rosas desenhadas na sua casca.
E que sorriem,mesmo sem respiração.
Aldo Moraes
parte do nada
Divido o poema
E ele que era parte
Parte dos sonhos
Parte da vida
Parte de espera
Parte da sina
E também parte quimera.
Agora ,não é nada
É só parte pequena
Que parte de Helena,
Não a de Alencar,
De sonhos e de dar
Mas uma outra qualquer.
Meu poema é só parte
Então dele não se reparte
Não se extrai nada
Nem água,nem fogo,nem terra...
Imaginaria,eu,que dele( ? ) simples poema,simples poema
Se pudesse extrair ar.
Então,ele não é nada
E também nem parte é.
E é parte de nada por que
Parte de nada.
E então é coisa de se ler e nunca lhe fazer fé.
É risco no papel
Esboço de palavras e,
Portanto não fala.
É mal e é bem
É tudo nascendo sem.
Não é ouro,nem prata
Nem estrela e não brilha
Não é verso,é cisma
Pedra que rebate n’outra
E nada aprende.
Parte do nada ?
Não irá ao tudo.
Aos todos
Aos tudos.
Aos vivos e aos mortos
Aos corpos e ao nada
(retrato apenas),dedico
um verso de partes soltas.
Aldo Moraes
Lê ‘óbvio
Lê’xcêntrico
Lê’minski
Aldo Moraes
“O que !”
Estrela é lua nova
Cobra é uma gravata
Árvore é rosa grande
Folhas de coqueiro são pincéis
Os cocos são bolas
E o coqueiro quase atinge o céu
O abacateiro não faz só abacate
Produz sombra,esterco e flor
O rio é um chuveiro
Há grama pelo mundo inteiro
Árvores não têm saias
E os pássaros não precisam de avião
O tempo não é visto
Mas o sol se vê da janela
E a chuva pelo vidro
Quem traz o frio é o vento
Folhas caem quando amarelas
E beijam a terra quando descem
Estrada é só um mato que não existe
Calor é a vaidade do sol
Selvas são dicionários
E os animais não sabem ler
Ventos fazem cócegas
E sapos não dão risadas.
Aldo Moraes
Brincando..
Como no tempo poético de Rimbaud:
18 prá menos.
Ao voar
Ao sentir
Pôr-poesia no prato que come
A fome
Voando
Como na tela-Van Gogh,duas orelhas cortadas:
Uma no quarto
Outra no quadro.
Film’ensinando memórias
Lugar algum se pensa assim.
Aldo Moraes
" Para Koellreutter I "
Silêncio é torto como dês-morto,o barulho.
Seria acaso,ruído ou inquietação,o silêncio do telefone quebrado?
Tanto quanto incômodo
O dobrar de sinos por quem parte.
E silêncio-Cage- I ching
Nota recusa de Webern
Foras sete oito nove sons
É só silêncio ou se chama pausa?
O silêncio é um mistério
O oculto da paz,acaso seria?
Ou sombras das folhas que não tremem
Ou o verso branco que acaba agora?
Aldo Moraes
Nouvelle Musique
A tinta na parede lembra jazz
Parece o jazz...
O piano de Monk
A guitarra
O trompete de Miles Davis
Tudo lembra uma mulher cantando jazz.
Na parede, é cinza, é obscuro, é escuro.
Parece Monet, talvez Guaguin, mas lembra jazz...
Quiálteras, confusões, contusões, sincopas não há.
É lento, é triste
É paisagem e lembra jazz.
Através...!
Aldo Moraes